sábado, 16 de janeiro de 2010

QUEBRANDO O PORQUINHO: REVISTA PLACAR PESQUISA AS CONTAS "SALGADAS" DO PALMEIRAS EM BUSCA DO TÍTULO

CLUBE PAGA CARO PARA TENTAR SE MANTER ENTRE OS "GRANDES"

Tirar o Palmeiras da fila no Brasileirão, antes que o jejum complete 15 anos, não tem preço. Vale gastar em oito meses 5,1 milhões de reais a mais do que as receitas do futebol e usar todo dinheiro que sobrava no cofrinho (de 1,5 milhão de reais em aplicações que o clube tinha em janeiro, só restaram 77400 reais).
"Quanto vale o título brasileiro? Para o Corinthians, que venceu a Copa do Brasil, não é muito importante. Para nós, vale muito", diz o gerente Toninho Cecílio, explicando a ousadia na janela de transferências. "Estamos fazendo de tudo. Não é à toa que contratamos o tricampeão brasileiro [Muricy Ramalho]", afirma Gilberto Cipullo, vice de futebol.
A aposta é que o título gere dinheiro para cobrir os gastos. O Clube dos 13 dará cerca de 5 milhões de reais ao campeão. A patrocinadora Samsung oferece 300 000. "A torcida vai consumir mais. Se você não põe dinheiro, lá na frente não ganhará", declara Fábio Raiola, vice financeiro. Dinheiro antecipado não falta. São 2,8 milhões de reais da Adidas e 9 milhões da Federação Paulista. No caso da FPF, a conta é salgada: em média, 550 000 reais mensais de juros são pagos à entidade. Dá para o salário de Vágner Love e sobram 150 000 reais.
O plano, assinado pelo presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, formado em direito e doutor em economia, é visto com desconfiança até por alguns diretores, que apelidaram a estratégia de "belluzzionismo". A oposição ataca. "Eles falam que têm que gastar para ser campeão, como se jogador fosse mercenário. Não adianta gerar receitas, é preciso conter gastos", afirma o ex-presidente Mustafá Contursi. Veja a seguir como a língua afiada de Belluzzo, a complexa relação com a Traffic e o acaso moldaram esse Palmeiras vitaminado.

VÁGNER LOVE

Atacante tem salário de 400 000 reais mensais

Que tal contratar o jogador mais caro do time sem saber direito onde conseguir o dinheiro para seus salários? Foi assim que o Palmeiras acertou com Vágner Love, por 400 000 reais mensais.
A diretoria planejava pagar a maior parte dessa quantia com as receitas geradas pela venda de patrocínio no calção, que não tinha sido feita até o fechamento desta edição.
A operação é bem dificil de ser realizada porque a Samsung precisa abrir mão dos direitos que tem em relação ao short. "Ainda vamos viabilizar isso", disse Fábio Galdão Raiola, vice financeiro.
A ousada contratação começou com uma inusitada abordagem ao jogador, feita por Adilson, mais conhecido como Moeda, amigo e uma espécie de faz-tudo de vários atletas palmeirenses. "Ele frequenta a minha casa no Rio. A diretoria pediu para ele me perguntar se eu queria voltar. O Moeda ajudou a me convencer e participou de toda a negociação", afirmou o atacante, indiretamente responsável pelo aumento no preço dos ingressos nos jogos do Palmeiras. O clube decidiu que, para conseguir pagar seus salários, também teria que reajustar os preços (os bilhetes mais baratos passaram de 30 para 40 reais).
"A diretoria do Palmeiras está arriscando, mas do jeito certo", diz o jogador. A vinda de Love não estava nos planos. Savério Orlandi, diretor de futebol, teve a ideia quando Keirrison saiu. Gilberto Cipullo, vice de futebol, deu sinal verde, apesar de considerar o negócio impossível. Aí Orlandi procurou Moeda...

PIERRE

A compra do volante aumentou a dívida com a Traffic

Manobras financeiras, aumentos salariais... Vale também comprar o mesmo jogador duas vezes? Junto com Diego Souza e Cleiton Xavier, Pierre era um dos destaques e, para tê-lo até o fim do ano, a missão era complicada. A diretoria chegou a dizer sim ao empresário do volante, que levou uma oferta do Espanyol (além do valor referente à porcentagem que tinha, o clube ficaria com 20% numa futura negociação).
Para desespero de colegas, Belluzzo não o liberou. O Palmeiras comprou os direitos da empresa, no valor de 4 milhões de reais. Pagou duas vezes pelo jogador, já que o comprou do Paraná em 2006, por cerca de 500 000 reais.
Os críticos dizem que o Palmeiras não vai recuperar o investimento. O pagamento à Traffic será em 20 parcelas. O dinheiro, porém, deve vir da porcentagem da venda de atletas da parceira.
Pierre teve o contrato renovado. Belluzzo anunciou: "Ninguém sai". Foi a senha para agentes de jogadores aparecerem com propostas e pedindo aumento. Para honrar o presidente, oito tiveram reajuste. Entre os que não receberam aumento há descontentes, segundo um dirigente. A diretoria diz que a folha, que estava na casa dos 3 milhões de reais, engordou só 80 000. Isso porque 13 jogadores foram dispensados.

FUTURO

O Palmeiras já deve mais de 10 milhões de reais para a Traffic. Dívida turbinada pelo esforço em busca do título brasileiro. Para dar aumentos e evitar atrasos, o clube mantém o que chama de conta corrente com a parceira. A empresa empresta o dinheiro e, se os dirigentes não conseguirem pagar, o débito será quitado com a venda de atletas. Dessas negociações, a parte que iria para os cofres alviverdes ficaria com a Traffic. Isso mesmo se os atletas forem 100% do clube, fato cada vez mais raro no Parque Antártica.
Apenas cinco atletas do time principal são inteiramente do alviverde: os goleiros Marcos, Bruno e Deola, o volante Pierre e o atacante Daniel Lovinho. "Temos uma parceria forte e queremos continuar com ela", diz o vice Gilberto Cipullo. "Eles falam que na minha época o time era medíocre? Agora nem time medíocre temos, porque os atletas não são do clube", afirma o ex-presidente Mustafá Contursi.
Segundo Cipullo, o dinheiro das vendas de Keirrison e Henrique (ainda não recebido) será usado no pagamento da dívida com a Traffic. Com média de 630 000 reais mensais de déficit, a projeção de prejuízo do futebol no ano é de 7,6 milhões. Para não fechar no vermelho, bastaria vender algum jogador do clube por esse valor. O problema é que não sobrou quase ninguém só do Palmeiras.
FONTE: REVISTA PLACAR

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