O principal protagonista de Avaí e Grêmio, hoje à noite, na Ressacada, não dará sequer um chute na bola. À beira do gramado, com seu blazer escuro e celular à mão, o paulista Paulo Silas Pereira, 44 anos, é quem irá concentrar a maior parte dos olhares no jogo que vale vaga nas quartas de final da Copa do Brasil.
Técnico do Grêmio, é com o Avaí, curiosamente, que Silas guarda maior identificação. Em dois anos, ele gravou seu nome na história do clube. Quando chegou a Florianópolis, em março de 2008, o clube havia completado três décadas sem disputar a Série A. O último título estadual tinha sido conquistado 13 anos antes. Sob o comando do novo técnico, ironizado como alguém que apenas esquentaria o banco para Zetti, de quem era auxiliar no Fortaleza, o Avaí readquiriu grandeza. Silas deixou a Ressacada no final de 2009 com volta olímpica e homenagem na casa do presidente João Zunino.
Cronistas mais experientes, como Roberto Alves, do Diário Catarinense e da Rádio CBN/Diário, citam Jorge Ferreira e Áureo Malinverni como outros técnicos reverenciados pela torcida.
— Mas Silas está acima deles — não hesita Roberto Alves.
Setorista do Avaí pelo Diário Catarinense na época de Silas, o jornalista Fabiano Linhares atribui parte do sucesso do treinador à estrutura oferecida pelo clube. Um exemplo foi a manutenção do meia Marquinhos, que era assediado por clubes do centro do país. Linhares, contudo, não deixa de destacar a capacidade do profissional.
— Silas devolveu a autoestima ao Avaí. A torcida não suportava mais os deboches do Figueirense — diz.
Sagaz, o técnico usou ontem o microfone da RBS TV de Florianópolis para um anúncio que diminui um pouco o sentimento de traição que acomete o Avaí a partir do jogo no Olímpico. Durante a parte local do Globo Esporte, Silas disse que o Grêmio havia cancelado o treinamento no CT do Cambirella, em Palhoça. Não pegaria bem treinar nos domínios do rival Figueirense.
Uma foto do primeiro jogo, publicada pelo Diário Catarinense, azedou um pouco a relação do treinador com os torcedores da equipe catarinense. No registro, Silas é visto ao lado do árbitro auxiliar apontando o dedo para Caio, como quem o denuncia. Na sequência, Caio seria expulso.
Silas desmente que tenha agido de má fé contra o meia do Avaí. Ontem, prometeu abandonar a carreira caso alguém prove isso.
Uma entrevista em que o presidente João Zunino revela não existir mais mágoa com o técnico também contribuiu para reduzir a fervura.
— Silas é um homem cheio de princípios — atesta Zunino.
Da mesma forma, a classificação do Avaí para a decisão do Estadual, eliminando o Figueirense, reduziu a tensão no clube. Não haverá tragédia se a vaga for perdida para o Grêmio, considerado um time melhor estruturado.
— No máximo, Silas ouvirá algumas vaias e ponto final. Mas não duvido que receba até alguns aplausos. É um herói aqui — garante Roberto Alves.
FONTE: ZERO HORA